Na Bacia do Rio Doce, João Paulo Viana caracterizou a pesca como majoritariamente artesanal em 2016. Ou seja, ela é praticada predominantemente por meios próprios dos pescadores profissionais da região. Entre as modalidades não comerciais desse tipo de pesca, se destaca a de subsistência, apenas para fins de consumo doméstico.
Mas o pescado é muito mais que uma mercadoria até mesmo para os pescadores que tiram dele o seu sustento. A pesca articula redes de sociabilidade, conectando membros de diferentes gerações dentro do mesmo núcleo familiar, e a lógica do trabalho investido na busca e na captura do peixe não é apenas de gerar lucro ou de sobreviver, mas também de produzir a vida em comum. Portanto, a prática se desdobra em efeitos que vão além da atividade desenvolvida no rio.
O ofício da pesca em Barra Longa foi duramente atingido pelo rompimento de Fundão. As pessoas que viviam do rio, atualmente evitam o contato com suas águas. A percepção é que aquilo que outrora foi alimento e diversão, hoje é ameaça e vetor de doenças. As pessoas continuam próximas aos rios, cultivam sua memória, mas as relações com eles foram interrompidas. Para o futuro, ainda paira incerteza sobre a atividade, com relação ao seu retorno e também seu reconhecimento e legitimação pelas autoridades.