O Museu Virtual Caminhos de Memória é um espaço criado para conservar, valorizar e dar visibilidade às referências culturais de Mariana, Barra Longa, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, em Minas Gerais. Entre caminhos, curvas, morros, rios e plantações, cada lugar revela tradições, festas, costumes e jeitos únicos de viver e se expressar, detalhes que fazem você se sentir em casa e que, juntos, constroem um mosaico de solidariedade, conhecimento e crenças comuns.
Um pouco de história
Minas Gerais é rica em cultura, onde paisagens, celebrações, saberes, fazeres e artes se cruzam em diferentes histórias de vida que formam a identidade de suas comunidades. Mas esta região, onde o tempo parece passar mais devagar, é, por outro lado, uma das mais pressionadas pelas transformações da sociedade.
Em novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, mostrou essa contradição de forma nua e crua.
Uma grande onda de rejeitos atingiu o córrego Santarém, o rio Gualaxo do Norte, o rio do Carmo e o rio Doce. Localidades de Mariana, Barra Longa, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, que se encontram próximas desses cursos d’água, foram duramente impactadas. A lama ainda avançou por 670 quilômetros até a foz da bacia do rio Doce, no Espírito Santo, abalando tradições e modos de vida de centenas de milhares de pessoas.
Impactos
Entre 2018 e 2019, pesquisadores contratados pela Fundação Renova realizaram diagnósticos em 20 localidades destes quatro municípios. Junto aos moradores, 415 referências culturais foram identificadas e 323 consideradas impactadas. As comunidades propuseram centenas de ações de reparação para que elas continuassem existindo.
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Principais impactos agravados pelo rompimento:
Enfraquecimento de práticas comunitárias.
Diminuição de vínculos e laços comunitários.
Perda de histórias e de pessoas essenciais para as tradições.
Dificuldade de geração de trabalho e renda com o turismo, o artesanato e outros produtos locais
Aumento do êxodo rural.
Aqui, a palavra-chave é salvaguarda
A reparação das referências culturais baseia-se no conceito de salvaguarda, um jeito de dizer “cuidar para não perder”. Trata-se de um esforço conjunto entre cidadãos, organizações e governos em torno de garantir que essas referências culturais sigam vivas e sustentáveis.
As responsabilidades são compartilhadas. O povo que habita as margens do rio Doce e de seus afluentes deve liderar essa caminhada, trazendo seu conhecimento para o centro das decisões. O poder público cuida de consolidar políticas que ofereçam suporte e estrutura, enquanto as organizações da sociedade civil fortalecem os grupos culturais e a iniciativa privada formenta o financiamento de projetos e recursos.
Juntos, eles devem identificar, documentar, proteger, promover, transmitir e revitalizar as tradições e os costumes que fazem essas terras tão especiais.
Desde 2019, a reparação das referências culturais conta com a cooperação técnica da UNESCO, agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, a Ciência e a Cultura. Por meio do projeto “Construção da paz e do diálogo para o desenvolvimento sustentável das regiões atingidas pela barragem de Fundão”, diversas iniciativas conduzidas durante o período emergencial na área da cultura foram fortalecidas, como:
Realização de oficinas culturais e de educação patrimonial
Oferta de cursos livres de música
Retomada de celebrações religiosas e festas populares
Organização de atividades de lazer e esportivas
Apoio a times de futebol e a grupos culturais e religiosos
Registro documental e audiovisual de memórias e de práticas culturais
Supervisão da restauração de imóveis inventariados ou tombados